Nos últimos 23 meses, 150 casais foram ao altar para celebrar a união civil no município de Saloá, Agreste do Estado. Mas nenhum casamento causou tanta polêmica e extrapolou os limites da cidade quanto o do ajudante de pedreiro José Ricardo Néris Rocha e a cabeleireira Paloma Lino Rocha, cujo nome na carteira de identidade é Rogério Lino da Silva. Com vestido branco de cauda longa, Paloma – como é chamado por todos, sem exceção – teve uma recepção completa. “O comentário foi muito grande. Até agora, ainda estão falando. Tudo isso porque um homossexual nunca tinha se vestido de noiva”, diz Paloma.
Prestes a completar 26 anos, Paloma se surpreendeu com o pedido de casamento de José, 18. Mas viu na proposta do namorado a oportunidade de casar vestida de noiva. “Era meu sonho. Pensei e disse: ‘já que você quer, também quero. E aceitei’”, lembra.
Vivendo a primeira experiência com alguém do mesmo sexo, o ajudante de pedreiro José Ricardo 18) quebra o silêncio apenas para reprovar a censura dos moradores de Saloá. “Falam demais da vida dos outros. Tem que acabar com esse preconceito”, reclama, mesmo assim econômico nas palavras. Os comentários sobre o casamento se espalharam rapidamente. Moradores de outras cidades já ouviram falar da união.A escolha de quem celebraria a cerimônia é um capítulo à parte na história de José e Paloma. Como todas as igrejas de Saloá – católicas e evangélicas – não aceitam o casamento gay, os dois recorreram a Luiz Gonzaga da Silva, muito conhecido em Caetés. Ele se diz padre da Igreja Ortodoxa Bielo-Russa. Mas, segundo os moradores, é casado e tem dois filhos. Na cidade, é conhecido por Lula padre. “Falam que ele faz todo tipo de casamento, de quem já foi casado e tudo”, revela Paloma.
Luiz Gonzaga disse que ficou surpreso ao saber que celebrava a cerimônia matrimonial entre dois homens.
“Vou recorrer para anular o efeito do casamento. Eles mostraram o documento com nome de mulher”, justifica. Mas a carteira de identidade de Paloma registra o nome de nascimento. Lula padre também não quis informar quanto cobrou. “Eles deram apenas uma ajuda para a igreja”, diz, apesar de não haver templo da Igreja Ortodoxa na cidade. O casal afirma ter pago R$ 170.
“Não temos nada a ver com a vida de ninguém. Mas não podemos aceitar essas coisas”, irrita-se o pastor Severino Manoel Lopes, da Assembleia de Deus. É raro encontrar quem aprove a união. O vendedor Eduardo César afirma não ser contra o relacionamento entre duas pessoas do mesmo sexo, mas reprova o uso do vestido de noiva.
Fonte: JC online.
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